Algo além do perdão.

Winston Smith, personagem de 1984, obra-prima de George Orwell, estava em uma estação de metrô com sua família, abrigando-se das bombas de uma das muitas guerras entre a Oceânia e a Eurásia, quando encontrou um velho bêbado, cheirando a gim, que “sofria sob o peso de uma dor genuína e intolerável. À sua maneira infantil, Winston entendeu que alguma coisa terrível, alguma coisa que estava além do perdão e que jamais poderia ser remediada, acabara de suceder. […] Alguém que o velho amava, uma netinha, talvez, havia sido morto.”

A frase: “alguma coisa que estava além do perdão e que jamais poderia ser remediada” me chamou a atenção quando a li, imerso em uma leitura fascinante. O estilo envolvente e sedutor de Orwell de fato fascina o leitor, mas acaba instilando nele (no leitor) um pessimismo indevido.

Isto me lembrou um homem que estava em um culto no qual preguei a mensagem da salvação em Jesus Cristo, há muitos anos. Após o culto ele me procurou e disse que para ele não havia perdão, pois era um assassino, que havia matado três pessoas. Antes que ele inspirasse o ar de volta para os pulmões, citei para ele a palavra de Deus:

“Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, eles se tornarão como a branca lã“
― Is 1.18

Não há nada que esteja fora da misericórdia de Deus.

Nunca mais vi aquele homem, mas sei que ele não estava naquele culto por acaso, nem foi em vão que ele veio conversar comigo. Acredito firmemente que o perdão que Cristo conquistou na cruz foi aplicado naquela alma perturbada pelo pecado; acredito na sua salvação eterna.

Não há coisa alguma que esteja além do perdão. George Orwell estava equivocado. Leia e creia na Escritura Sagrada:

“Se tu, Senhor, observares as iniquidades, Senhor, quem subsistirá? Mas contigo está o perdão, para que sejas temido.”
― Sl 130.3-4

Descansemos, portanto, no amor e no perdão de Deus. Não há pecador que se aproxime de Deus arrependido e contrito que seja desprezado por ele: “Um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.” (Sl 51.17).

+José Moreno, um bispo anglicano imerecidamente alcançado pelo perdão. Isto é graça!

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