Minhas experiências com a mediunidade.

O termo mediunidade pode ser definido como a capacidade de comunicação entre seres humanos e espíritos. Minha primeira experiência mediúnica ocorreu há quase cinquenta anos, mais precisamente, no início de 1973.

Eu trabalhava em uma grande empresa do ramo editoral, cujos escritórios ficavam localizados na Rua Augusta, em São Paulo. Era ateu de carteirinha e usava todos os argumentos racionais que havia aprendido para refutar a existência de Deus. Não suportava a ideia de Deus. Qualquer referência a alguma prática religiosa me causava total repugnância.

Paralelamente, eu era um jovem revoltado com a vida. Filho de pais separados, acostumado à vida mundana, criado por um padrasto violento, era uma pessoa de difícil convivência. Alguns vizinhos de casa, quando me viam ao longe, atravessavam a rua para não terem que cruzar comigo na calçada. Mesmo assim eu tinha uma namorada, uma linda baiana que vivia com a família em São Bernardo do Campo/SP.

Ela era uma jovem de 18 ou 19 anos, cheia de vida, mas contraiu um mal terrível: todas as noites, exatamente às 21 horas, começava a sentir-se sufocada, com falta de ar severa e extremamente incômoda. Consultou os principais médicos especialistas em São Paulo, sem sucesso. Apesar de fazer uso de aminofilina, tinha que ser levada frequentemente à emergência hospitalar de madrugada para submeter-se ao balão de oxigênio a fim de poder respirar normalmente. Isso durou cerca de um ano.

Certo sábado, fui convocado para uma reunião na editora em que trabalhava. Uns quatrocentos funcionários estavam lá comigo, no auditório, quando um fato inusitado ocorreu: o Dr. Varella, diretor-comercial da empresa, anunciou a presença do pastor Antonio Alves dos Santos e disse que ele fora chamado para fazer uma oração em nosso favor. Pelo que escrevi acima, você pode ter uma ideia de como me senti desconfortável com aquele anúncio. Só não me retirei porque era funcionário da empresa e minha presença na reunião era obrigatória.

O pastor Antonio leu um trecho da Bíblia, do qual não me lembro, e pregou um breve sermão a respeito da salvação em Cristo e do poder de Deus na cura das enfermidades do corpo e da alma. E garantiu: “Hoje, aqui, vocês vão ver o poder de Deus se manifestar!” Em seguida, convidou os que tivessem alguma doença e quisessem ser curados para ir à frente receber uma oração. Uma grande fila se formou, pois pelo jeito havia muitas pessoas doentes ali. Uma delas era o Camilo, que depois tornou-se pastor também. Todos o conhecíamos. Ele estava perdendo a visão e já estava quase cego. Foi curado instantaneamente, à vista de todos!

Não sei explicar como aconteceu o que relato a seguir, pois não me lembro como saí da última fileira do auditório e me apresentei ao pastor. Contrariando toda a minha prática e toda a minha descrença, falei com ele a respeito da minha namorada. Ele foi firme: “Eu vou orar por você aqui e quando você encontrar com a sua namorada, o milagre vai acontecer”. Impôs as mãos sobre a minha cabeça e orou pedindo a cura dela. Eu não poderia imaginar o que estava para acontecer naquele dia.

Algumas horas mais tarde, encontrei-a na casa da minha mãe. Como todo namorado faz, dei um beijo nela. Se você quiser saber a sensação que senti, pegue um cubo de gelo e beije-o. Exceto a umidade do gelo, foi o que senti. Ao olhar para ela, ela me fulminou com um olhar de ódio que me assustou. Quando toquei nela de novo, nos ombros, ela desabou. Caída no chão, semidesfalecida, começou a grunhir, falando palavras desconexas.

Gritei pela minha mãe. Quando ela viu o que estava acontecendo, disse para eu levá-la para dentro de casa, enquanto ela ia buscar o seu João. Ele morava na casa em frente, que era também a sede de um terreiro de umbanda. Seu João era o dirigente daquele terreiro. Ao chegar, ele informou que uma entidade havia incorporado nela. Desenhou com giz branco alguns símbolos no chão e começou a conversar com aquele espírito.

Tudo aquilo era para mim uma grande novidade. Eu estava assistindo a uma experiência mediúnica, um contato com um espírito, coisa na qual eu não acreditava.

A entidade se identificou como sendo o espírito de uma irmã da minha namorada, que havia morrido atropelada um ano antes. Disse que estava em trevas e que precisava que certa quantidade de velas fosse acesa na porta do cemitério em que ela estava sepultada e que certa quantidade de missas fosse rezada em determina igreja, na cidade de São Bernardo do Campo. Aquela doença era o seu esforço de comunicar-se para fazer esse pedido. De modo incompreensível para mim, cri em tudo aquilo e anotei o pedido para executá-lo o mais rapidamente possível e assim tentar obter a cura daquele mal.

Na segunda-feira pela manhã, telefonei ao pastor Antonio para agradecer-lhe a oração – especialmente o seu resultado. Quando lhe relatei o ocorrido, ele me disse que aquele espírito não era da irmã da minha namorada, mas de um demônio. Quando tentei argumentar com ele que o espírito havia falado, que eu tinha ouvido que era a irmã dela, ele me disse para levá-la até ele e que a verdade me seria revelada. Conforme combinamos, na quinta-feira seguinte entrei em seu escritório acompanhado dela. Durante o trajeto de sua casa até ali, ela fumava um cigarro após o outro e aparentava estar muito nervosa.

Depois de algumas poucas palavras, o pastor nos pediu para ficarmos em pé, levantou as mãos e começou a orar: “Jesus!”. Esta única palavra, o Nome sobre todos os nomes, foi o suficiente para lançá-la ao chão novamente, só que agora violentamente. Ela começou a rugir e se arrastar como serpente debaixo da mesa do pastor. Ele me perguntou se era aquilo o que tinha ocorrido na casa da minha mãe.  Eu disse que era semelhante, mas não tão forte. Eu estava agora todo arrepiado e muito comovido. Cheguei mesmo a derramar algumas lágrimas.

O pastor então me explicou que aquilo era um demônio, um espírito mau, decaído, cuja finalidade é destruir a vida das pessoas. Disse que iria expulsá-lo em nome de Jesus e que, sem missas nem velas, ela seria curada daquele mal. Dito e feito. Quando ele ordenou que aquele demônio saísse, ela agitou-se violentamente e deu um grito, na verdade um urro, que deve ter sido ouvido em toda a vizinhança e moveu-se como se algo estivesse saindo dela (estava!) e desfaleceu por alguns instantes. Em seguida, abriu os olhos, demonstrando cansaço, mas serenamente, perguntou: “Onde estou?” Ela não se lembrava de ter sido levada até aquele lugar nem do que havia ocorrido com ela ali.

Para encurtar a história, desde aquele dia nunca mais ela manifestou aquela doença que a vitimara durante tanto tempo. Foi milagrosamente curada!

A partir de então, passei a entender que há algo além da matéria; não podia mais ser ateu. Comprei uma Bíblia e comecei a estudá-la. Também passei a frequentar os cultos na igreja do pastor Antonio. Mas fui convidado por um amigo espírita a frequentar as sessões da Federação Espírita de São Paulo, na Rua Maria Paula.

Durante alguns meses, li a Bíblia, frequentei a igreja e o espiritismo e, sobretudo, conversei muito com o pastor e com meu amigo sobre Deus e a espiritualidade. Ambos, o cristão Antonio e o meu amigo espírita, eram pessoas boas e tranquilas. Eram bem casados e viviam vidas honestas e sóbrias, sem cigarro, álcool nem coisas semelhantes.

O modo como eles interpretavam a Bíblia, porém, diferia em vários pontos cruciais, como a divindade de Cristo e a salvação, por exemplo. Para os cristãos, Cristo é Deus com o Pai e com o Espírito Santo; para os espíritas, é um espírito evoluído, mas não é Deus. A salvação dos evangélicos se obtém pela graça de Deus através do sacrifício vicário de Jesus Cristo na cruz; para os espíritas, a salvação se dá por meio de sucessivas reencarnações nas quais resgatamos dívidas assumidas em vidas anteriores.

Eu precisava me definir: ou seria espírita ou seria cristão. Fiz uma oração a Deus sobre isso e ele me respondeu através de um texto bíblico:

“Porque a porta é estreita, e o caminho que leva à vida é apertado, e são poucos os que a encontram. Tenham cuidado, então, com os falsos profetas, que vêm até vocês vestidos como ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus frutos. Colhem-se uvas de espinheiros ou figos de plantas selvagens? Assim, toda árvore boa produz frutos bons e toda árvore má produz frutos maus. A árvore boa não pode dar frutos maus, nem a árvore má dar frutos bons. Toda árvore que não dá fruto bom é cortada e jogada no fogo.” – Mateus 7.14-19

O Espírito Santo me disse que o pastor e o meu amigo eram as árvores e em breve eu veria os frutos e então poderia tomar a minha decisão.

Poucos dias depois, esse meu amigo me convidou para ir com ele à boate Trevas, na Avenida do Estado, no Ipiranga, bairro paulistano, aliás, no qual nasci. Ele havia marcado uma noitada com duas garotas e queria que eu fosse com ele. Perto do amanhecer, tive que levar o meu amigo para casa completamente bêbado. Tentei dar uma desculpa qualquer à sua esposa, mas como explicar a embriaguez?

Horas mais tarde, depois de dormir e me alimentar, fui ler a Bíblia, como fazia diariamente. Deus, então, me mostrou os frutos daquela árvore: adultério, prostituição e bebedeira. Decidi-me pela outra árvore. Decidi-me pela igreja e pela fé evangélica. Durante os sete anos seguintes, convivi intimamente com o pastor Antonio e sua família, uma “floresta” (ele, a esposa e os cinco filhos). O testemunho de todos eles manteve-se irrepreensível. Aprendi “as primeiras letras” com esse homem de Deus, por quem sou grato e por cuja família tenho um respeito muito grande. Conheci poucas mulheres de Deus como Guaracy, sua esposa, carinhosamente chamada de irmã Bibi.

A Helena também se converteu à fé cristã e foi batizada no mesmo dia que eu. O namoro acabou não dando certo, mas há alguns anos encontrei-a casualmente em São Paulo e ela continuava firme na fé.

O meu amigo espírita, infelizmente, morreu poucos meses depois, num acidente de automóvel. Não tenho como saber se ele teve um encontro com o Senhor Jesus antes de partir. Espero que sim.

O pastor Antonio viveu ainda quase quarenta anos, vindo a morrer na fé cristã, recentemente, respeitado por todos à sua volta [você pode ler a homenagem póstuma que lhe fiz AQUI].

As minhas experiências com a mediunidade, portanto, me levaram a abominá-la radicalmente, a não querer “desenvolver” mediunidade nem me envolver com fenômenos espíritas, os quais afastam os homens de Deus e da sua palavra. Na verdade, como você pode ver nas fotos abaixo, alguns anos depois eu mesmo estava fazendo o que o pastor Antonio fez com a minha ex-namorada, libertando pessoas de espíritos maus, obsessores, demônios a serviço do mal. As fotos são da missão que fiz em Mangaratiba/RJ, em 1979. Fundei ali uma igreja que permanece viva e ativa até hoje para a glória de Deus. Antes, já havia fundado outra igreja no Tucuruvi, bairro em que eu morava, composta por dezenas de pessoas que antes me evitavam, mas agora reconheciam a glória de Deus na minha vida. Ao longo dos anos, tenho tido o privilégio de plantar outras igrejas em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Atualmente, a minha família e eu estamos envolvidos na obra de Deus em Indaiatuba, cidade da Região Metropolitana de Campinas/SP.

Deus o abençoe rica e abundantemente.

+Bispo José Moreno

Igreja Anglicana das Américas – Via Media
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